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Estado cancela provas de 5 concursos e atinge 76 mil candidatos

Denúncias de irregularidades no concurso para delegado da Polícia Civil, cujas provas objetivas foram aplicadas pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) no domingo, levaram o governo estadual a cancelar as provas dos cinco concursos da área de Segurança Pública, todos realizados pela UEG.

Além das de delegado, foram canceladas as provas objetivas para soldado, oficial e cadete da Polícia Militar, escrivão e agente de Polícia Civil. As de agente nem chegaram a ser aplicadas e estavam previstas para o dia 3 de março. A medida afeta 76.694 candidatos inscritos nos 5 concursos.

O cancelamento foi anunciado por meio de comunicado enviado pela Secretaria Estadual de Gestão e Planejamento (Segplan) no início da noite, horas depois de uma intensa movimentação de candidatos a delegado de polícia pelas redes sociais imediatamente após a divulgação do gabarito oficial preliminar do concurso para a categoria, pelo endereço eletrônico da própria UEG. Muitos candidatos perceberam que as respostas das provas seguiam uma sequência numérica e de letras, que tinha correspondência em todos os tipos de provas (eram quatro tipos para delegado, com as letras A, B, C e D).

Na nota, a Segplan informou que “diante de indícios de irregularidades nos gabaritos das provas dos concursos das Polícias Civil e Militar, elaborados pelo Núcleo de Seleção da UEG, determinou o cancelamento desta etapa (provas objetivas) dos certames já realizados”. A mensagem informa ainda que a Escola de Governo Henrique Santillo, da Segplan, agendará nova data para realização das provas. Por telefone, a Segplan informou que as provas para agente também estão canceladas.

À noite, o Núcleo de Seleção colocou no site um comunicado aos candidatos informando o que “houve de fato foi uma falha técnica no embaralhamento das proposições relativas à resposta correta de cada questão, ocasionando uma sequência de letras que se repetiu até o final do gabarito”. Ainda segundo um dos comunicados, o problema se repetiu em todas as provas, inclusive nas aplicadas no começo do mês.

Antes da nota, a diretora do Núcleo de Seleção, Eliana Nogueira, disse ao POPULAR que o cancelamento das provas tem objetivo de evitar que os concursos sejam levados para a Justiça. A professora sustenta que “de fato, de concreto, não teve nada que possa manchar os processos seletivos”. Hoje, ela deve se reunir com representantes da Segplan e da Escola de Governo para definir nova data de realização das provas.

O reitor da UEG, Haroldo Reimer, informou que apenas ontem, no fim da tarde, após uma reunião, é que foi informado pelo Núcleo de Seleção sobre o problema constatado nos gabaritos. “Foi uma pancada dura. Estamos em uma fase de reconstrução de credibilidade e o que posso dizer neste momento é que lamentamos muito que isso tenha acontecido”, disse.

Para Reimer, a forma como as letras foram dispostas nos gabaritos, em sequências repetidas, “foge completamente do padrão”. O reitor disse que não poderia informar ontem, por não ter tido acesso a todas as informações, o nome do responsável pela formulação dos gabaritos, mas comentou que é uma pessoa concursada, que trabalha exclusivamente no Núcleo de Seleção, mas que está a pouco tempo no local.

A Segplan informa que o governo estadual “será contundente na tomada de todas as medidas necessárias para apurar responsabilidades” e que “não abre mão da transparência e da licitude nos processos seletivos em andamento”.

Ainda não havia informação, ontem à noite, sobre quem realizará as novas provas, se a UEG permanecerá ou será substituída nem de que forma outra instituição será escolhida. A Segplan pede que os candidatos inscritos aguardem por novas orientações.

O Ministério Público estadual (MP) abriu procedimento de investigação ainda ontem. Servidoras do Centro de Apoio Operacional do Patrimônio Público da instituição relataram à reportagem que atenderam dezenas de telefonemas durante todo o dia a respeito do problema nos gabaritos. A reclamação foi distribuída ao promotor Fernando Krebs, mas ele informou ao POPULAR que encaminhou a denúncia para a promotoria de Anápolis, pelo fato de a sede da UEG ficar na cidade.

Diretora defende lisura no processo seletivo

Reportagem: Alfredo Mergulhão

A diretora do Núcleo de Seleção da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Eliana Nogueira, disse ontem à noite, em entrevista ao POPULAR, que só tomou conhecimento do gabarito da prova nesta segunda-feira. Ela defendeu a equipe responsável pela elaboração das questões. “São pessoas sérias, que assinam termo de compromisso com a universidade. Elas ficam num ambiente restrito, sem acesso ao telefone e à internet, onde não pode entrar nem sair com objetos”, afirma. Ao todo, 27 pessoas estão envolvidas na elaboração.

Sobre as novas datas para a aplicação das provas, ela disse que é preciso verificar a data limite do edital. Além do cancelamento, a direção da UEG deve decidir hoje se haverá processo administrativo para investigar os responsáveis por supostas irregularidades.

A diretora informa que a metodologia utilizada foi de geração aleatória do gabarito, feita por meio de um programa de computador. Sobre a repetição das sequências das respostas, Eliana admite que esse fato “denota uma situação diferente” e, para demonstrar a lisura do processo seletivo, foi decidida a reaplicação das provas.

Candidata percebeu sequência de letras

A prova A de delegado, por exemplo, tinha uma sequência letras nas questões de 1 a 10 e outra na de 11 a 20. Depois, as mesmas sequências se repetiam, até completar as 100 questões objetivas, num total de 5 repetições cada. As provas B, C e D apresentavam o mesmo esquema da prova A.

Uma das candidatas que perceberam a repetição foi Ludmilla de Carvalho Faleiro, de 26 anos. Ela e o namorado compararam as provas e não tiveram dúvida.

Em entrevista ao POPULAR, Ludmilla disse que ficou ainda mais estupefata quando pegou o gabarito da prova de escrivão da Polícia Civil, realizada no dia 17 de fevereiro, o domingo anterior, e divulgadas no dia seguinte, no site da UEG.

A sequência é exatamente a mesma, com a diferença de que a prova A de escrivão equivale à prova B de delegado; a prova B de escrivão, com a prova C de delegado; a prova C de escrivão com a prova D de delegado; a prova D de escrivão com a prova A de delegado.

“Eles divulgaram o gabarito na semana anterior. Para quem sabia do esquema, bastou decorar a sequência, sem contar que a UEG, na condição de organizadora, sabia que tipo de prova cada candidato iria fazer”, protesta Ludmilla.

“Depois de pesquisar, descobrimos que havia um padrão dentro do padrão, ou seja, que a sequência das quatro primeiras repetia-se, de forma invertida, nas quatro últimas e que havia uma equação matemática, de modo que bastava que o candidato decorasse a sequência de quatro letras, atribuindo a cada uma um número, para gabaritar qualquer um dos quatro tipos de prova”.

A candidata se disse muito decepcionada. “Se as quadrilhas estão evoluindo, a Justiça e os órgãos de fiscalização também devem evoluir”, disse.

Ludmilla procurou o Ministério Público (MP) estadual para fazer a denúncia. Ela foi a segunda pessoa a formalizar a reclamação junto ao MP.

“BOM SENSO”

O POPULAR conversou com pessoas que trabalham com outras organizadoras de concursos e elas disseram que há um cuidado para evitar qualquer tipo de repetição de resultados exatamente para impedir fraudes. “É uma questão de bom senso”, disse um professor.

Fonte: Jornal O Popular

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