Empresa que fazia manutenção de aeronave da PC revela que Koala teve apenas troca de óleo. SSPJ alega que isso não foi problema

Os delegados, peritos e o assassino confesso da chacina de Doverlândia viajaram a bordo do helicóptero AW119 Koala, da Polícia Civil, sem antes a aeronave ter passado por manutenção exigida após atingir as 300 horas de voo.
O documento da empresa responsável pela manutenção, enviado à Secretaria de Segurança Pública e Justiça (SSPJ), esclareceu que a revisão prevista para ser executada não aconteceu.
Além disso, as cadernetas do helicóptero não apresentam a liberação para retorno ao serviço, concluindo que a aeronave foi retirada da empresa Fênix Manutenção e Recuperação de Aeronaves Ltda antes mesmo de a revisão ser iniciada. Apenas uma troca de óleo teria sido efetuada por um mecânico da Polícia Civil.
Segundo o secretário de Segurança Pública, João Furtado Neto, a empresa sustenta que não realizou a manutenção porque, no dia 4 de maio, foi informada da suspensão da licença concedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Na opinião do secretário, a ausência da manutenção não foi determinante na causa do acidente que aconteceu na terça-feira (8), quando o helicóptero Escorpião caiu na zona rural do município de Piranhas, matando os oito tripulantes. Ele ainda destacou que a causa será divulgada após laudo técnico do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa).
A Anac encontrou várias irregularidades na empresa, entre elas requisitos relacionados às condições de instalação, identificação e rastreabilidade das peças, além, da ausência de treinamento, habilitação e registro dos mecânicos.
Segundo informou a assessoria de imprensa do órgão federal, a penúltima fiscalização feita aconteceu em novembro de 2011, no entanto, não estava previsto uma nova vistoria no local, já que o monitoramento é feito uma vez por ano em cada empresa. Uma nova fiscalização aconteceu este mês devido uma denúncia anônima feita junto ao órgão.
Por isso, com a suspensão, a empresa não poderia atuar efetuando a manutenção do helicóptero. Pela primeira vez, o administrador geral da Fênix Manutenção e Recuperação, Assumar da Conceição Borges, falou com a imprensa. Ele recebeu a reportagem na sede da empresa, que fica às margens da BR-070. Os serviços ainda estão paralisados, mas ele garante que um relatório apontando que as irregularidades foram sanadas já foi enviado a Anac.
A empresa poderá voltar a prestar os serviços aeronáuticos apenas depois de efetuada uma nova vistoria do órgão, que ainda não há data prevista para acontecer. Ele ainda esclareceu que a empresa está empenhada em contribuir com as investigações. Mas preferiu não comentar com relação a qualquer possível causa do acidente. “Nossa função é esclarecer. Somos uma empresa séria, vamos aguardar o laudo do Cenipa para poder pronunciar sobre o acidente.”
Assumar disse ainda que, a partir do momento da notificação, a equipe já iniciou o trabalho em cima das irregularidades. Ele também optou por não comentar quais seriam os problemas apontados pela Anac, e fez questão de destacar que a Fênix está há 4 anos no mercado.
Disse ainda que todas as outras empresas de manutenção passam por esse tipo de procedimento. Com relação à denúncia feita junto à Anac também não comentou. Todo ano a Fenix recebe os técnicos da Anac e são orientados sobre a adequação de outros procedimentos. “Na aviação não existe irregularidade. Existe algo para ser melhorado na qualidade.”