Autor confesso muda versão e acusa cabo da PM de executar crime
A Polícia Civil de Goiás não ficou surpresa com a nova versão apresentada ontem pelo açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier, o Marquinhos, até então o autor confesso dos disparos que mataram, no dia 5 de julho de 2012, o comentarista esportivo Valério Luiz de Oliveira, de 49 anos, quando ele deixava a emissora de rádio em que trabalhava, no Setor Serrinha, em Goiânia. Em novo depoimento à titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), Adriana Ribeiro de Barros, que durou mais de quatro horas, Marcus Vinícius apontou o cabo da Polícia Militar Ademá Figueiredo como o verdadeiro executor do radialista. A decisão de falar foi do próprio açougueiro, que procurou a titular da DIH temendo por sua integridade física, pela de sua família e por estar sendo procurado insistentemente por advogados desconhecidos. “Estou assustado porque não conheço ninguém”, afirmou o açougueiro aos jornalistas.
O grupo de delegados que investiga o assassinato de Valério Luiz já trabalhava com a possibilidade de o cabo PM Ademá Figueiredo ser o executor do radialista. O nome dele apareceu numa carta anônima encaminhada às autoridades de segurança e à imprensa como o autor dos disparos. A carta foi anexada aos autos e serviu como meio de investigação. O mesmo documento mencionou a participação do PM na chacina do Jardim Olímpico, em Aparecida de Goiânia, ocorrida no dia 19 de novembro de 2011, quando seis pessoas de uma mesma família foram assassinadas. Entre as vítimas estava Isadora, uma garota de 4 anos, que teria sido morta pelo policial com um tiro na cabeça. Em novembro do ano passado o PM foi preso, acusado de participar da chacina, e, desde então, encontra-se detido no Batalhão Anhanguera, em Goiânia.
“Crime de pistolagem fica muito no intelecto. É preciso que os participantes se delatem”, disse a titular da DIH, Adriana Ribeiro de Barros. E foi o que ocorreu ontem. Muito abatido e preocupado com a pressão de um grupo de advogados que tem procurado sua família e a ele próprio na carceragem onde está recolhido, o açougueiro pediu para prestar novo depoimento. “Ele reafirmou que emprestou a motocicleta, o capacete e as roupas, que recebeu R$ 9 mil, mas retificou a versão anterior dizendo que a execução de Valério Luiz coube ao cabo Figueiredo, não a ele”, afirmou a delegada. Para Adriana Ribeiro, Marquinhos foi harmônico e demonstrou sinceridade no interrogatório.
No longo depoimento de ontem, Marcus Vinícius teria feito uma espécie de reconstituição dos acontecimentos antes, durante e após o crime. Ele contou que foi procurado dois meses antes pelo sargento PM Djalma Gomes da Silva, que já o conhecia, pedindo a motocicleta, o capacete e roupas emprestados que seriam usados na execução de uma pessoa. Um mês antes, houve novo encontro, desta vez com a participação do comerciante Urbano Carvalho de Malta e do cabo PM Ademá Figueiredo. Segundo Adriana Ribeiro, o açougueiro não teria sido informado quem seria morto, mas foi comunicado por Urbano que o pedido partiu de seu patrão, o tabelião e empresário Maurício Sampaio, e que o motivo seria traição. Marquinhos, temendo que seu veículo fosse reconhecido, optou por emprestar a motocicleta do pai, o ex-jogador de futebol, Lino, que atuou pelo Vila Nova. Para configurar crime passional, até mesmo um bilhete teria sido escrito.
Após o crime, o açougueiro guardou a arma utilizada, um revólver calibre 357, mas no dia seguinte ela foi entregue a Urbano de Malta e até agora não foi localizada pela polícia. Há cerca de um mês, com a grande pressão pela prisão dos envolvidos no assassinato do radialista, Marcus Vinícius teria sido procurado pelo sargento PM Da Silva. De acordo com a titular da DIH, o policial teria orientado o que ele teria de fazer, caso fosse preso, e ameaçado sua família.
Conforme a delegada Adriana Ribeiro de Barros, a nova versão apresentada por Marcus Vinícius não muda o rumo das investigações. “Temos provas técnicas que comprometem os quatro acusados que já estão presos: Marcus Vinícius, Maurício Sampaio, sargento Da Silva e Urbano de Malta. Vamos pedir a prisão preventiva deles e intimar o cabo PM Ademá Figueiredo para depor. Também devemos fazer novas diligências. Ainda temos 30 dias para fechar o inquérito, período que pode ser prorrogado por mais 30 dias. Nesse tempo podemos identificar novos envolvidos”, disse a titular da DIH.
Assustado e pressionado
Ao terminar seu depoimento, Marcus Vinícius falou rapidamente com os jornalistas. Assustado e cabisbaixo, ele disse que mudou sua versão porque conversou com os pais e porque está preocupado com o assédio de advogados que ele não conhece. “Eu preciso de proteção, já admiti minha participação, colaborei 100%”, resumiu o açougueiro. Ontem, durante o seu depoimento, um advogado chegou à DIH dizendo que foi chamado ao local, mas que oficialmente não tinha sido instituído defensor do açougueiro. A delegada Adriana Barros não permitiu a entrada do advogado e questionou: “Chamado por quem?”. O advogado saiu antes da resposta.
Cercado por jornalistas, o único momento em que Marquinhos levantou o olhar foi quando perguntaram sobre a pessoa que teria executado Valério Luiz. “Não vou falar, não posso falar. Estou muito, muito arrependido”.
Fonte: Jornal O Popular